O economista americano Paul Michel Romer, Prêmio Nobel de Economia, afirmou nesta terça-feira (14), em São Paulo, que o monopólio pode ser prejudicial para o desenvolvimento da sociedade, concentrando poderes em vez de distribuir ideias e conhecimentos.
“Lembre-se como a economia pode ser fantástica quando não se tem um monopólio”, afirmou o Prêmio Nobel de 2018, no evento Global Voices, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), nesta terça-feira (14), em São Paulo.
Para ele, é preciso que a sociedade tenha governos fortes, que consigam dizer não a grandes empresas que prejudicam a sociedade. E, em recado ao Brasil, disse que a sociedade não deveria se curvar a grandes monopólios da tecnologia que regulam as informações, como as de empresas ligadas a sites de busca.
O economista americano Paul Michael Romer recebeu o Nobel de Economia em 2018 por demonstrar como a inovação tecnológica e o conhecimento impulsionam o crescimento econômico de longo prazo.
Segundo Romer, a sociedade avançou a partir de ideias e conceitos que foram compartilhados, formando o conhecimento geral da humanidade, desde a invenção da escrita até a invenção da programação de linguagem de computador Phyton.
“Minha recomendação para o Brasil, quando o mundo é como é – não um mar de rosas, como quando imaginei todos os benefícios para a economia – é que todo mundo tem de entender que é preciso um governo forte para avançar. Pensem nas pessoas intoxicadas pelo chumbo, na indústria farmacêutica que viciou pessoas em opioides. O único ator que pode ser forte o suficiente para dizer não a isso é o governo”, afirmou.
“O problema com as ideias é que elas criam monopólios. Os economistas têm dito há décadas que o mercado competitivo dirige nossa energia para fazermos mais, mas ele é corroído pelo monopólio”, afirmou.
Mercado e ciência
Romer contextualizou suas ideias citando a invenção do soro caseiro, e como este conhecimento desenvolvido em Bangladesh foi compartilhado em todo o mundo, evitando internação e morte de crianças. “As ideias podem surgir em diferentes lugares. O valor vem quando todos nós pudermos usá-la”, disse.
Citando sua pesquisa com meta ideias, que são ideias a partir de ideias, Romer falou sobre a linguagem falada, a escrita, a matemática e os códigos de computadores.
Ele afirmou que o código de computador Python foi desenvolvido de forma aberta, livre de monopólio, sendo acessível para qualquer programador que souber usá-lo, sem precisar pagar por isso. E disse que o documentário sobre Guido von Sossum, que inventou a linguagem de computador Python, lançada pela primeira vez em 1991, não aparece na busca do Google, embora esteja disponível gratuitamente no YouTube.
Comparando a busca em uma ferramenta paga, como Kagi, em que o documentário aparece, ele fala sobre o modelo econômico deste serviço, que cobra pelo uso e não pelos anúncios que podem guiar os resultados das respostas.
Microsoft é ameaça, na visão de prêmio Nobel
Romer citou a empresa Microsoft e um relatório de segurança que mostrava brechas no sistema de compartilhamento de informações em nuvem.
Para ele, a “Microsoft é maior ameaça aos EUA” porque ganhou dinheiro sem prestar atenção à segurança. “Nunca foi seguro e nunca vai ser [usar a Microsoft]”, afirmou.
O relatório foi desenvolvido, segundo Romer, durante uma janela em que a agência reguladora dos EUA estava ativa. Em frente à política dos EUA que está enxugando o governo americano, incluindo as agências reguladoras, ele se declarou pessimista.
Fonte : https://www.infomoney.com.br