Copom deve subir Selic nesta semana sem dar pistas sobre próximos passos, diante de incerteza global

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Comitê de Política Monetária (Copom) não deve renovar seu forward guidance (instrumento em que o banco central guia o que esperar da política de juros futura) na decisão desta quarta-feira, 7. Economistas esperam que o colegiado evite sinalizações sobre as próximas decisões, diante da escalada da incerteza no cenário externo desde o anúncio de várias tarifas pelos Estados Unidos. Com isso, o balanço de riscos para a inflação vai ser observado de perto, para calibrar as expectativas futuras.

O colegiado já aumentou a Selic em 3,75 pontos porcentuais desde setembro, quando retomou o ciclo de aperto monetário − inclusive com três elevações consecutivas de 1 ponto cada, entre dezembro e março. Na última reunião, o Copom indicou uma nova alta, mas “de menor magnitude”, neste encontro. As medianas do Focus e da mais recente pesquisa Projeções Broadcast sugerem uma alta de 0,5 ponto esta semana, para 14,75%.

A principal dúvida diz respeito à sinalização futura. No fim de abril, vários diretores do Banco Central sinalizaram que a escalada da incerteza torna um forward guidance infrutífero neste momento, e que as próximas decisões devem ficar em aberto. O presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, disse na última terça-feira, 29, que é preciso ganhar mais graus de flexibilidade na política monetária.

“O mais provável é o BC usar a mesma estratégia que usou no fim do ciclo de aperto passado, e dizer que vai ‘avaliar a necessidade de um novo ajuste na próxima reunião’”, diz o economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano. “Isso casa tanto com a manutenção de um balanço de riscos assimétrico quanto com um balanço simétrico. O mais provável seria ele manter a assimetria no balanço.”

O Copom tem mantido o seu balanço de riscos assimétrico para cima, indicando que é mais provável que o IPCA fique acima das suas projeções do que abaixo. Uma eventual mudança nesse equilíbrio poderia indicar menor disposição de um novo aumento da taxa na reunião de junho, segundo Serrano. Se o balanço permanecer assimétrico para cima, essa elevação ganharia probabilidade.

Analistas do mercado já esperam uma queda de 0,1 a 0,2 ponto porcentual nas projeções de inflação do Comitê para 2025 (5,1%) e 2026 (3,7%), que agora se torna o horizonte relevante. Nos últimos 45 dias, o dólar caiu de R$ 5,80 para R$ 5,70, pela metodologia usada pelo Copom.

Os preços das commodities recuaram. As medianas do Focus para o IPCA ficaram praticamente estáveis, com uma baixa marginal na expectativa para 2025, mas a inflação corrente continua pressionada.

Em linhas gerais, também se formou uma opinião no mercado de que o tarifaço anunciado pelos EUA tende a produzir efeitos desinflacionários para o Brasil. Além da queda dos preços de commodities e do dólar, pesa nesse cenário a avaliação de que as exportações chinesas antes destinadas aos EUA vão ser ofertadas ao resto do mundo, promovendo uma queda nos preços de bens industriais.

O economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, destaca que o colegiado tem de comprar graus de flexibilidade, para observar os efeitos do aperto monetário já feito e os desdobramentos do cenário externo.

As tarifas dos EUA já produziram algum efeito desinflacionário via dólar e commodities, mas o tamanho do impacto que isso terá no processo de convergência do IPCA ao centro da meta ainda é incerto.

“O BC pode ter de trazer o benefício da dúvida, porque temos uma enormidade de variâncias em jogo: choque desinflacionário, preços de petróleo despencando, a possível inundação de produtos chineses no mundo, o dólar americano caindo, e tudo ao mesmo tempo”, diz Gardimam. “Isso é uma tempestade, é uma tsunami. O BC tem razão de importar essa preocupação.”

Gardimam espera que uma elevação de 0,5 ponto na Selic nesta quarta-feira, para 14,75%, seguida por uma manutenção dos juros neste nível. Na avaliação dele, é possível que o Copom tenha espaço para começar a cortar os juros já no fim deste ano.

Para Thais Zara, economista-sênior da LCA 4Intelligence, o mais provável é o BC aumentar a Selic em 0,5 ponto porcentual nesta reunião e deixar as próximas decisões em aberto, de forma a observar a evolução do cenário. Ela espera que o balanço de riscos para a inflação permaneça assimétrico, de forma a justificar um aumento final de 0,25 ponto em junho, mas reconhece a chance de o ciclo ser encerrado já nesta quarta-feira.

“Se o câmbio depreciar até junho, por questões como algum aumento da aversão ao risco nos mercados financeiros ou alguma questão doméstica, o BC ficaria com espaço para mais uma alta. Mas, se tivermos uma evolução mais favorável, se observarmos o vetor desinflacionário ajudando na convergência da inflação, ele pode não exercer essa opção”, afirma.

Serrano, do BMG, considera que o encerramento do ciclo com a Selic em 14,75% é o mais provável, enquanto o BC aguarda para observar a evolução do cenário externo. “No segundo semestre, nós podemos ver uma desaceleração global mais forte, uma redução dos juros nas economias centrais e uma intensificação da desaceleração doméstica. Isso combinado reforça um cenário de acomodação e começa a indicar que o IPCA de 2026 pode ficar abaixo do teto da meta”, diz o analista.

https://www.estadao.com.br/economia/copom-selic-pistas-proximos-passos-incerteza-global

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