Com o tema “Inteligência Emocional versus Inteligência Artificial: para onde caminha a Saúde Ocupacional?”, o Sincovaga-SP realizou nesta quinta-feira (26/06), uma palestra que reuniu profissionais da saúde, estudantes, gestores e lideranças empresariais em um debate atual e necessário. A atividade, promovida pelo Comitê de Segurança e Medicina do Trabalho da entidade, foi conduzida pelo professor e mestre Laércio Neves, especialista em Gestão e Liderança em Saúde, e teve mediação do sanitarista, consultor e coordenador do Comitê, Caires José Maria. O evento foi transmitido online e também contou com público presencial na sede da entidade.
Com uma abordagem instigante e realista, Laércio Neves destacou o papel da inteligência artificial (IA) como uma importante ferramenta de apoio ao profissional da saúde, desde que usada com responsabilidade, sem abrir mão da empatia, da escuta ativa e do toque humano. “A IA pode me orientar, me dar linhas de conduta, me informar sobre o que devo ou não dizer, especialmente em casos de vulnerabilidade, como pacientes com depressão, TDAH ou crenças religiosas diferentes das minhas. Mas quem executa o cuidado, quem conduz o manejo, sou eu, ser humano, com minha inteligência emocional e minha sensibilidade profissional”, afirmou.
A conversa trouxe reflexões também sobre os impactos da tecnologia nos processos seletivos e na rotina das empresas. Para o professor, a inteligência artificial, somada a outras tecnologias digitais, tem revolucionado o recrutamento de pessoal. “Hoje, antes que o candidato chegue à entrevista presencial, ele já passou por uma triagem que envolve envio de currículo digital, análise de perfis no LinkedIn e no Instagram, gravação de vídeo, entrevista online e somente depois o encontro presencial. Isso permite ao recrutador identificar sinais de organização, engajamento e até comportamento. A tecnologia filtra, mas é o olhar humano que decide”, afirmou.
Outro ponto debatido foi a contradição vivida em muitas empresas que proíbem o uso de celulares no expediente, mas, ao mesmo tempo, exigem que os funcionários interajam por meio de aplicativos corporativos, respondam mensagens instantâneas e acessem plataformas digitais para tarefas simples. “Quem não faz gestão, faz pressão. E isso só aumenta o estresse e a insatisfação”, pontuou Neves. “A solução está na criação de protocolos claros: pode ou não pode usar o celular? Quando e por quê? O que acontece se houver abuso? A ausência de processos claros só gera ansiedade.”
Segundo o palestrante, é essencial que as empresas tenham regras escritas e bem definidas. “Sem isso, os profissionais ficam vulneráveis e sem referência. O ser humano só se organiza quando entende as regras e, principalmente, as consequências do descumprimento delas. Isso vale para o uso da tecnologia, para o comportamento ético, para tudo.”
A plateia virtual e presencial participou ativamente da conversa, trazendo perguntas sobre temas como judicialização das relações de trabalho, limites no uso de redes sociais durante o expediente e o impacto do excesso de estímulos digitais na saúde mental. “O excesso de processos pode gerar receio nos profissionais. Um simples toque durante um exame pode ser interpretado como assédio. Estamos sendo punidos por cumprir nossas funções básicas. Isso enfraquece a confiança entre pacientes e profissionais, e torna o ambiente de trabalho mais tenso”, alertou o professor.
Neves também refletiu sobre o que chamou de “inversão de valores” na sociedade contemporânea. “Hoje, poucas crianças dizem que querem ser médicas ou professoras. Mas muitas querem ser youtubers ou influencers. Nada contra essas carreiras, mas precisamos olhar para isso com atenção. Estamos trocando o valor do cuidado pela busca da performance digital.”
Outro ponto de destaque foi a crítica à falta de espaços de conexão espiritual e emocional. “As pessoas não vão mais à igreja, ao templo, ao terreiro… mas lotam estádios para assistir futebol. O problema não é o futebol, mas o esvaziamento de espaços de fé, de introspecção, de pertencimento. Isso tem efeito direto sobre a saúde mental e sobre as relações humanas no trabalho.”
A palestra também abordou a crescente pressão por resultados e produtividade, muitas vezes sem estrutura adequada ou suporte emocional. “As empresas querem alto desempenho, mas ignoram as condições que estão oferecendo. É preciso cuidar das pessoas para que elas possam cuidar do negócio”, reforçou o especialista.
Ao final, o professor defendeu a necessidade de unir inteligência emocional, empatia, ética e tecnologia, como pilares da saúde ocupacional contemporânea. “Não podemos tratar a tecnologia como vilã nem como salvadora. Ela é uma ferramenta, e o resultado depende de quem a usa.”
O evento reafirma o compromisso do Sincovaga-SP com a valorização dos profissionais da saúde e da segurança do trabalho, promovendo debates sobre os desafios atuais e futuros do setor, sempre com foco no equilíbrio entre inovação, humanidade e bem-estar.
Faça parte do Comitê de Segurança e Medicina do Trabalho do Sincovaga. Mais informações: (11) 3335-1100.