O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na última terça-feira, 02/09/2025, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2025. O crescimento na comparação com o mesmo período do ano passado foi de 2,2%, acima do esperado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (1,9%). A mediana do mercado esperava crescimento de 2,3%, levemente acima do realizado.
Na comparação com o trimestre imediatamente anterior (1ºT/2025), o crescimento foi 0,4%, uma desaceleração em relação ao primeiro trimestre (1,4%). Esse movimento já era esperado, uma vez que o crescimento no primeiro trimestre foi sustentado pelo setor agropecuário, que apresenta forte sazonalidade no começo do ano.
Pela ótica da oferta, a agropecuária segue sendo destaque. Apesar da queda de 0,15% na comparação com o último trimestre, o resultado foi bastante robusto, graças ao bom desempenho dos grãos, como a soja (crescimento de 14,2% na comparação anual) e o milho (19,9%). Na comparação com o segundo trimestre de 2024 o crescimento foi acima de 10%, assim como aconteceu no trimestre anterior. O IBGE estima que a participação do agro na economia brasileira é de 6% do PIB, porém essa conta só leva em consideração a produção primária do setor. Se levarmos em consideração também a atuação secundária, ou seja, setores da indústria e serviços que estão ligadas à produção agropecuária, esse número sobe significativamente. O Itaú estima que o agro pode impactar até 21% do PIB brasileiro.
A indústria cresceu 0,5%, graças ao bom desempenho da indústria extrativa (5,45%). Os demais setores da indústria recuaram no trimestre, com destaque para o setor de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-2,7%). A alta dos juros naturalmente impacta o setor, aumentando o custo do crédito e dificultando novos investimentos. A CNC espera que o Banco Central mantenha a Selic no patamar atual até o final de 2025, o que continuará afetando o setor nos últimos dois trimestres de 2025.
O setor de serviços apresentou crescimento mais uma vez (0,63%). O desemprego nas mínimas históricas (5,8%) e a renda das famílias em patamares recordes influenciam diretamente esse resultado. Apesar disso, o comércio recuou 0,1% no trimestre, o único subgrupo a recuar. A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) já antecipava o desempenho mais fraco no trimestre. Novamente os juros elevados levam a culpa. Com a taxa básica da economia em seu patamar mais alto desde 2006, os consumidores encontraram dificuldade para financiar seus gastos. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada mensalmente pela CNC mostra o aumento do número de endividados ao longo do ano. Em agosto 78,8% das famílias tinham dívidas em aberto. As famílias que não terão condições de pagar suas dívidas chegou a quase 18% entre as famílias que ganham até 3 salários-mínimos.
Já os serviços expandiram 0,32% na comparação com o último trimestre de 24 e 2,1% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. O destaque foi o setor de Informação e comunicação (2,98%). A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) já antecipava o crescimento desse setor. O setor de comércio cresceu 0,27%, enquanto o de transportes foi o único a recuar, caindo 0,60%. Na comparação com o ano anterior todos os setores apresentaram crescimento.
Pela ótica da demanda, os investimentos recuaram (-2,18%) após bom desempenho no trimestre anterior (3%). Porém esse resultado é influenciado pela importação de plataformas de petróleo no primeiro trimestre, que inflaram os resultados do início do ano. Esse é um investimento não recorrente e por isso deve ser analisado com cuidado. Nas contas do IBRE FGV, sem essa importação o investimento cresceria 1% no primeiro trimestre e cresceria entre 0 e 1% no segundo. A importação também caiu (-2,86%), reflexo da incerteza gerada pelas tarifas americanas. As exportações (0,71%) tiveram bom desempenho graças ao crescimento da produção agropecuária.
A CNC espera um crescimento de 2,3% em 2025 e de 0,3% no próximo trimestre, sustentado pelo bom desempenho do mercado de trabalho, que segue resiliente apesar da alta dos juros. O setor de serviços e principalmente do comércio, já apresentam sinal de desaceleração, mas espera-se que o ano seja positivo, embora com crescimento menor que em 2024.
Fonte : CNC