Tudo indica que efeitos do tarifaço sobre o emprego serão gradativos

Opinião

Brasil precisa preparar medidas excepcionais como as que salvaram milhões de empregos na epidemia de Covid-19, porque a conquista de novos mercados pode levar muito tempo

O impacto geral do tarifaço no mercado de trabalho como um todo deve afetar muito pouco o quadro geral do emprego, pois as exportações brasileiras para os Estados Unidos são de apenas 12% do total. Mas os impactos setoriais preocupam. Muitas empresas de mineração, siderurgia, móveis, carne e suco de laranja já estão dando férias coletivas aos empregados. Essa costuma ser a providência inicial das empresas antes de demitir pessoal treinado – hoje em grande falta no Brasil.

Há setores, porém, que promoverão dispensas mais rapidamente. É o caso, por exemplo, das propriedades de frutas in natura, que, sem poder colher e realizar as operações sequenciais, despedirão os que trabalham por dia ou por tarefa. O caso dos peixes (tilápias) também é grave: os importadores se recusam a receber até o que já estava pronto para exportar, o que está gerando dispensas de muitos trabalhadores.

O caso da Embraer tem uma peculiaridade. A empresa exporta 60% da sua produção para os Estados Unidos. Mas, além de ser muito intensiva em capital, grande parte dos componentes das aeronaves vem dos próprios Estados Unidos, o que deve gerar mais desemprego lá do que aqui. Ainda assim, o impacto na própria empresa não é desprezível. Em 2009, devido ao cancelamento de pedidos decorrente da crise financeira mundial, a empresa teve de despedir 4.200 empregados altamente qualificados.

Em todos esses casos, é preciso considerar o impacto indireto da queda de exportações nas regiões afetadas. A agricultura, por exemplo, gera pouco emprego, mas a cadeia do agronegócio é responsável por muitos empregos na armazenagem, transporte, comércio e serviços. Cada um dos setores indicados tem grande influência nos negócios locais.

Tudo indica que os efeitos do tarifaço sobre o emprego serão gradativos. Crescerão na medida em que (1) as empresas tiverem cancelamentos de pedidos dos Estados Unidos sem a substituição por outros países e (2) forem forçadas a adiar investimentos programados. Em tudo isso já pesa bastante o efeito danoso das altas taxas de juros que inibem investimentos geradores de empregos.

É impossível fazer uma avaliação quantitativa no momento. Mas o Brasil precisa preparar medidas excepcionais como as que salvaram milhões de empregos na epidemia de Covid-19, porque a conquista de novos mercados pode levar muito tempo.

Opinião por José Pastore

Professor da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP. É membro da Academia Paulista de Letras

Fonte : https://bookcontent.boxnet.com.br/Visualizar/?b=4984961&n=825064438&p=1913&pmvc=26

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