Além da escala 6×1: empregadores agora querem semana de 72 horas

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Jornada de trabalho de 12 horas está ganhando força nos Estados Unidos, especialmente entre startups de inteligência artificial

Adeus, expediente de oito horas. Um novo modelo está surgindo. A exaustiva rotina de 12 horas por dia, seis dias por semana, vem ganhando força nos Estados Unidos, sobretudo em setores ligados à tecnologia e à inovação.

Se uma jornada de 72 horas semanais soa sufocante, é exatamente essa a intenção. O modelo, que se popularizou na China e chegou a provocar protestos e denúncias de mortes por excesso de trabalho, foi criado para promover um estilo de vida baseado em comer, dormir e trabalhar.

Keith Spencer, especialista em carreiras da FlexJobs, disse à Fast Company que a tendência é mais comum entre startups de IA que “estão adotando essa abordagem para acelerar o crescimento e se manter competitivas em escala global.”

Embora o ritmo pareça insustentável, Spencer afirma que alguns profissionais – especialmente os mais jovens e ambiciosos podem se sentir atraídos por esse estilo de trabalho.

“Alguns funcionários, sobretudo os mais novos, podem até apoiar esse nível de dedicação extrema, principalmente quando há aumento de salário ou outros incentivos envolvidos”, explica.

Essa mentalidade é impulsionada por figuras influentes do setor de tecnologia, como Elon Musk, que há anos defende uma ética de trabalho baseada em sacrifício e entrega total.

O excesso de trabalho pode provocar uma “crise de carreira precoce”. Em 2018, ele publicou no X/ Twitter que trabalhar em suas empresas era algo revolucionário, mas que exigia imensa dedicação. “Existem lugares muito mais fáceis para se trabalhar, mas ninguém muda o mundo com 40 horas por semana”, escreveu

Quando um seguidor perguntou qual seria o número ideal de horas semanais, Musk respondeu: “varia de pessoa para pessoa, mas cerca de 80, podendo chegar a mais de 100 em certos momentos. O nível de dor aumenta exponencialmente acima de 80.”

DEDICAÇÃO INTEGRAL

Seguindo essa filosofia de dedicação extrema, empresas que adotam o modelo de 12 horas diárias buscam apenas funcionários “obsessivos” – termo usado na página de carreiras da Rilla, uma startup de IA com sede em Nova York.

A empresa deixa claro em seus formulários: quem não estiver “empolgado” com a ideia de trabalhar “70 horas por semana, presencialmente, com algumas das pessoas mais ambiciosas de Nova York” não deve se candidatar.

Will Gao, chefe de crescimento da Rilla, explicou à revista “Wired o apelo desse tipo de rotina. “Existe uma subcultura crescente, especialmente na minha geração – a geração Z –, formada por pessoas que cresceram ouvindo histórias de Steve Jobs e Bill Gates, empreendedores que dedicaram suas vidas a construir empresas que mudaram o mundo”, disse Gao. “Kobe Bryant dedicou todo o tempo que tinha ao basquete, e não vejo ninguém dizendo que ele não deveria ter se esforçado tanto.”

Na Cognition, uma startup da Califórnia que está desenvolvendo um engenheiro de software movido por IA, o escritório funciona em uma mansão com quartos para os funcionários que não têm tempo de voltar para casa.

O CEO, Scott Wu, explicou no X/ Twitter o que é esperado dos contratados: “a Cognition tem uma cultura de desempenho extremo, e deixamos isso claro no processo seletivo para evitar surpresas depois. Costumamos trabalhar nos fins de semana e fazemos alguns dos nossos melhores trabalhos tarde da noite. Muitos de nós literalmente moramos no trabalho.”

FLERTANDO COM O BURNOUT

Essa tendência está crescendo nos EUA justamente em um momento em que o burnout atinge níveis recordes. Um relatório de 2025 da Care.com mostra que o esgotamento profissional é mais grave do que as empresas imaginam: enquanto os empregadores acreditavam que 45% dos funcionários estavam em risco de burnout, 69% dos trabalhadores afirmaram estar em risco moderado ou alto.

Por isso, Spencer alerta que as empresas devem “agir com cautela” ao adotar a jornada de 12 horas. Além da exaustão, ele observa que o excesso de trabalho pode provocar uma “crise de carreira precoce”, quando o profissional não vê mais sentido no que faz – algo que prejudica tanto o funcionário quanto a empresa.

Esse modelo foi criado para promover um estilo de vida baseado em comer, dormir e trabalhar

Winter Peng, fundadora e CEO da Silveroak Capital Academy, uma consultoria de mentoria e carreira, concorda que essa cultura pode ser um tiro no pé. Segundo ela, esse tipo de rotina “acaba com a criatividade que impulsiona a verdadeira inovação”.

“Essas startups estão trocando inovação por obediência. No fim, seus melhores talentos vão simplesmente sair em busca de empresas que valorizem o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”, conclui

Fonte : https://fastcompanybrasil.com/worklife/alem-da-escala-6×1-empregadores-agora-querem-semana-de-72-horas/

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